Em Entrevista: o lado do samba!!

terça-feira, fevereiro 22, 2011

Em celebração ao Carnaval, vamos trazer uma entrevista para que vocês conheçam mais profundamente o mundo do samba. Nas linhas abaixo veremos paixão, histórias e dicas de como participar de um desfile da Sapucaí. Vamos bancar as réporteres?

Apresentação do Entrevistado: Bruno Guedes, 24 anos, jornalista formado.

Escolas que desfila e papeis nas agremiações: 

B: Atualmente desfilo tocando tamborim na Mocidade Independente de Padre Miguel e São Clemente, ambas do Grupo Especial do Rio de Janeiro. Também sou ritmista da Águia de Ouro, escola do Grupo Especial do carnaval paulistano. Pelo Grupo de Acesso, sou diretor de bateria da escola de samba Sereno de Campo Grande, que desfila na terça-feira de carnaval e ritmista de várias outras, como Arranco do Engenho de Dentro, Paraíso do Tuiuti e Unidos de Padre Miguel.
Ao todo, já participei de mais de vinte desfiles, em escolas como Beija-Flor, Porto da Pedra, Acadêmicos de Santa Cruz entre outras.

Como começou a participar do Carnaval carioca?
B: A primeira lembrança que tenho do carnaval na minha vida foi em 1992, um desfile do Salgueiro que minha família assistia, chamado "O Negro que virou Ouro nas Terras do Salgueiro", sobre o café. No ano seguinte teve aquela explosão carnavalesca com o inesquecível "Peguei um Ita no Norte", que ficou mais conhecido como "Explode coração", por causa do samba. Foi a primeira vez que me vi torcendo po uma escola de samba, mesmo com apenas cinco anos de idade.
Mas em 1996 minha vida para o samba mudou de rumo. Ganhei um LP (exatamente um disco de vinil) de presente de aniversário, com os sambas de enredo. Me encantei pela obra da Mocidade Independente de Padre Miguel e passei a torcer por ela naquele carnaval. Foi coisa de paixão mesmo, porque dizia a todo instante que ela seria campeã e nem respondia provocações de amigos e parentes. No dia desfile, dito e feito, pela primeira vez senti a emoção com uma agremiação. E o resultado não foi diferente, a escola da Vila Vintém foi campeã daquele carnaval (o enredo era "Criador e Criatura").
Porém, não tinha uma escola de coração, torcia conforme o gosto pelo samba. Um exemplo disso foi minha torcida pela Porto da Pedra e Grande Rio, no carnaval de 97, abandonando a Mocidade e até torcendo contra ela, na apuração.
Em 1998 me encantei pela Portela. Virei torcedor, fui pela primeira vez à Sapucaí, com a escola de Madureira no Desfile das Campeãs (enredo "Os Olhos da Noite") e uma das maiores emoções da minha vida.
Mas não gostava apenas de assistir, me encantava pelo sambas e as baterias! Até que em 2001 comprei, por vontade própria, um tamborim e me coloquei a tentar tocar. Sem sucesso.
Três anos mais tarde, fui até a Oficina de Percussão "Tamborim Sensação", à época localizada no Paraíso do Tuiuti, em São Cristovão. Aprendi a tocar o instrumento e ter domínio total para estar numa bateria. Era a realização do maior sonho da minha vida. Foi uma luta de dez meses até estar apto para uma escola de samba.
Em 2006 fiz a estreia pela Acadêmicos de Santa Cruz, escola que tentava voltar ao Grupo Especial. De lá para cá foram mais de vinte desfiles, várias emoções, realizações de sonhos e muito aprendizado.
Muito mais que uma festa, como alguns confundem, o carnaval tem muito da arte e cultura do país. Parece clichê, mas só estando ali para entender porque quem prova dessa fonte, não larga mais. Como diz o Marcelo D2: É a Maldição do Samba!

Quais são as suas dicas para uma pessoa que deseja participar de um desfile (em um passo a passo de como comprar a fantasia, participar dos ensaios)?

B: Há vários tipos de integrantes de uma escola de samba. Vou mostrar alguns mais tradicionais:

Alas Comerciais: São pessoas que compram a fantasia e ao longo do ano não são assíduas frequentadoras das escolas de samba. Mas isso não as fazem menos carnavalescas. Geralmente as escolas começam a vender as fantasias a partir de outubro. Mas há agremiações que iniciam uma pré-venda desde junho, para que a pessoa possa parcelar e frequentar os ensaios (até mesmo os técnicos, na Sapucaí). Sempre estão à venda pelo site da escola ou nas próprias quadras. É a forma mais comum, porém cara.

Alas de Comunidade: São pessoas cadastradas na escola, moradores ou não da localidade da agremiação, que ensaiam desde agosto o canto e a evolução. Em troca, ganham a fantasia. Porém, a pessoa necessita respeitar uma frequência, sendo até mesmo retirada da listagem em caso de excesso de faltas aos ensaios. Qualquer pessoa pode participar, basta se cadastrar na escola no período certo. É a mais barata, mas requer disciplina e participação nas quadras.

Ritmistas: São os que mais ensaiam. Alguns, o ano todo, literalmente. Para fazer parte de uma bateria, basta o indivíduo ter domínio de um instrumento e ser aprovado pelos diretores de bateria. Algumas pessoas acham que é o local mais difícil de desfilar, mas hoje em dia há diversas escolinhas de bateria ensinando quem deseja fazer parte de uma. Até mesmo algumas agremiações, como o Salgueiro, Mangueira, Mocidade, Beija-Flor e outras. Sem dúvidas é o mais desgastante, porém, o mais gratificante e prazeroso setor de uma escola. 

Conte alguma história hilária que já presenciou ao longo do tempo que desfila...
B: Tem uma história curiosa que aconteceu em 2007, quando desfilei pelo Grupo de Acesso B, na escola Flor da Mina do Andaraí, que hoje não desfila mais na Marquês de Sapucaí.
Ela era a primeira a desfilar na Terça-Feira de Carnaval. As arquibancadas ainda estavam vazias, já que eram ainda 19hs e o sol estava forte. Há uma regra nos desfiles de que, nenhuma bateria pode tocar seus instrumentos sem que seja oficialmente autorizado pela organização dos desfiles através de uma sirene e pelo locutor da Passarela. Caso seja a regra seja quebrada, a agremiação perde pontos. Enquanto os diretores arrumavam a bateria e a dividia por naipes (chocalho, tamborim, surdos etc), o presidente da escola faz um discurso emocionado, já que a escola tinha perdido dois carros num incêndio na semana do carnaval.
Ao terminar, percebendo a emoção do dirigente, a bateria inteira começou a "rufar" os instrumentos, numa saudação típica no samba, mas sem autorização alguma. Todos os diretores saíram correndo mandando parar e, no microfone, entre palavrões e gritos, o presidente diz: Pelo amor de Deus, bateria, pára de tocar ou nossa situação só piora...

Palavras do Bruno para o Carnaval de 2011
Bom, para finalizar, gostaria de prestar aqui minha homenagem às três escolas que foram atingidas pelo incêndio do dia 7 de fevereiro. Principalmente a Grande Rio, que perdeu 100% do seu carnaval. Para muitos foi apenas um fogo, mas para nós, artistas anônimos e que levamos a cultura do país para todo o mundo, foi como o "11 de setembro".
Sugiro a todos que ouçam ou leiam o samba enredo da Vila Isabel de 1984, autoria de Martinho da Vila, chamado "Pra tudo se acabar na Quarta-Feira". Ele resume tudo o que falei.

Bom, assim conhecemos bem mais do Carnaval Carioca. Espero que vocês tenham aprendido tanto quanto eu.

Beijos,
Rê Jardim
 

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3 comentários

  1. Rê adorei a entrevista! Nunca fui mt ligada em Carnaval, só gosto do feriado msmo hehe. O Bruno me deu uma idéia totalmente diferente da festa, me deu uma vontade de cair na Sapucaí, mt legal as dicas.

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  2. Gentem, vou confessar: não curto nadinha o carnaval! Nada de ir pra rua, nada de fantasia, nada de nada...Pois é.

    Mas não tem como não admirar o trabalho que essa festa dá, assim como quem faz o clima de sonho acontecer! Amei a entrevista do Bruno, parabéns!

    Ok, só tem uma coisa que me encanta: os sambas-enredo! ô criatividade, viu? rs

    bjks

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  3. Ahhhhhhhhhhh o Guedes esqueceu de contar a historia da Mocidade!!! Onde o carro começou a pegar fogo e os integrantes parabenizando pelos efeitos especiais!!! Adoooooro essa historia! hahahahahahahha...
    Beijos

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